Rol da feira, de Márcio de Lima Dantas (e-book encartado no n.5 da Revista 7faces)



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Gênero
poesia

Capa
Joaquín Torres García

Páginas
40

Sobre o e-book
O que se reaviva nesse último livro é algo que já havia observado em Xerófilo, publicação indexada na terceira edição do caderno-revista 7faces: a palavra como instância transfigurada. Não sei se notei com esses termos, mas façamos de conta que tudo que eu tive oportunidade de dizer sobre o livro na época em que ele apareceu está resumido nessa ideia. A operação ensaiada pelo poeta é processo muito sofisticado, mais sofisticado do que a reinvenção do código linguístico por meio da introdução de novos vocábulos, porque nele é a finesse do sentido o que é reinventado. Ao contrário dos poetas céticos que apostaram por longa data no “ceticismo da palavra”, para recuperar os termos de Hofmannsthal, Márcio de Lima Dantas crê na palavra como peça na condução do leitor à produção do estado poético.

Em Rol da feira, já desde o título e a sequência de poemas como “Arma branca”, “Galo”, “Cigana”, “Gazo”, “Cacimba de areia”, “Sinuca”, “Casa sertaneja”, e há outros, mas bastam estes, apesar de rememorar nomes, tipos, o leitor não encontrará neles uma evocação realista – com toda implicação assumida entre o termo e o objeto –, mas uma apropriação dos sentidos que nomes e tipos possam evocar para sua ressemantização. Arrisco-me a dizer: o poeta se apoia na vida e nas palavras e entende o gesto poético como uma ficção deduzida da observação. E se descartei os subterfúgios da complexa relação entre termo e objeto, descarto também os sinônimos de falsificação, fraude ou de mentira para a ficção. Prefiro crer que o trabalho aqui é o alargar as fronteiras tão precárias da realidade e de novas maneiras de dizer as coisas. Noutras palavras, a transfiguração evocada aqui não se guia por além de, mas pela pequenez da universalidade, alimentada integralmente pelos resquícios da palavra. Tem seu nascimento, sua existência, sua movimentação na sofisticada relação desenhada entre o eu-poético e a ‘arma branca’; “No embate, um/ só corpo emana”, um poema que lembrando o que vemos reinventa suas fronteiras.


Pedro Fernandes. “Para ler Rol da feira, de Márcio de Lima Dantas”. In: caderno Domingo / Jornal De Fato. Mossoró, 12 de agosto de 2012, p.13.